«Depois da sua primeira exibição na Galeria Filomena Soares em 2003, integrada no ciclo de exposições “Universal Strangers” comissariada por Rosa Martinez, apresentamos o último trabalho realizado pela artista, com o título “Zarin”. A exposição será composta pela projecção do seu mais recente filme “Zarin” e um grupo de fotografias do mesmo projecto.
O trabalho de Shirin Neshat refere-se aos códigos sociais, culturais e religiosos do Islão e da complexidade de certas oposições, tais como o homem e a mulher. Neshat procura muitas vezes resolver tecnicamente este confronto social com a projecção dos filmes dispostos de forma concorrente, criando desta forma contrastes visuais baseando-se em valores tais como Claro/Escuro, Preto/Branco, Macho/Fêmea.
Na continuação do uso da cultura do Irão – seu país de origem - como inspiração, os seus mais recentes filmes pretendem reconstruir uma aproximação mais universal a noções de identidade, sociedade, refúgio e utopia. Afastando-se dos grupos visuais de mulheres cobertas com burkas e homens de camisa branca, os seus novos filmes desistem de representações de análise gramatical para favorecer uma narrativa tradicional mais forte e caracterizações de maior distinção, utilizando a narrativa ficcional como ponto de partida. Trabalhando sobre os temas, explorou em vídeo e em fotografia a sua interpretação do realismo mágico das histórias a que juntou o forte carácter visual, com o objectivo de criar filmes que pertencessem quer à categoria de cinema como à de arte. No entanto vivem ainda nos seus trabalhos a interacção visceral e emocional entre o observador e as personagens que a artista descreve, assim como a sua expressão poética, filosófica e metafórica e complexos níveis de abstracção intelectual.
Zarin, 2005, é a história de uma jovem mulher que trabalha como prostituta desde a sua infância. O filme traça a sua lenta desintegração até ao delírio psíquico. Destruída pela culpa das suas acções e pelo forte desejo de salvação, a sua loucura é manifestada pela sua percepção do mundo em seu redor. Narrando a história da destruição com um imaginário quer gráfico como belo, Neshat evoca o tormento de uma mulher tão torturada pelo seu papel na sociedade, acabando por se sentir completamente imobilizada. Com os homens que se cruzam na sua vida a aparecer sem rosto, os sentimentos de horror, vergonha e culpa apoderam-se desta personagem. Julgando ser uma punição de Deus, ela foge do bordel para um balneário público. Numa atitude de desespero, esfrega a sua carne viva e ensanguentada, tentando desta forma compensar o seu passado, contudo, ela é profundamente afundada na loucura, e por fim luta pela sua redenção.»
http://www.gfilomenasoares.com/galeria_pt.htm
Sem comentários:
Enviar um comentário