06 junho 2008

Mezcal em Lava


Malcolm Lowry

Não há poesia quando vives lá.
Essas pedras são tuas, esses ruídos são o teu pensamento,
Os atroadores eléctricos de ferro e as ruas que te prendem
Ao bar sonhado onde o desespero se senta
São eléctricos e ruas: a poesia esta noutro lugar.
As fachadas do cinema e as lojas há muito abandonadas
E choradas, já não são choradas. Estranhamente cruéis
Parecem todos os marcos da terra de aqui e agora.

Mas vai a caminho da Nova Zelândia ou do Pólo,
E essas pedas florescerão e os ruídos hão-de cantar,
E os ele´ctricos seduzirão a criança adormecida
Que nunca descança, cujo barco sempre navegará,
Que nunca poderá voltar a casa, mas deverá trazer
Estranhos troféus a Troia, e a todos os ermos!
(Não Há Poesia Quando Vives Lá)

(...)
A cidade é apenas uma mentira, crispada de mentiras,
- Se eu tivesse a coragem de não dormir,
Não poderia seguir quando me pudesse levantar?
Ensina-me a navegar pelos fiordes do acaso
Perdido na minha abissal ignorância.
(Um Peregrino Passa Pela Cidade à Noite)


[ in As Cantinas e Outros Poemas do Álcool e do Mar, poemas de Malcolm Lowry, seleccionados e traduzidos por José Agostinho Baptista, Assírio & Alvim, 2008]

1 comentário:

Anónimo disse...

Vi isso na feira do livro e fiquei com vontade de comprá-lo! agora já me decidi ;)